
Maternidade Violada
A União Vegana de Ativismo (UVA) entende que a perda da guarda do bebê Sama (de pouco mais de 1 ano) pela mãe, Patrícia Garcia, mesmo em fase de amamentação, pela alegação de receio da sua opção de alimentação vegetariana é fruto da cultura patriarcal, associada à grande ignorância sobre vegetarianismo e veganismo. A alimentação vegetariana estrita é reconhecida como adequada, em todas as fases da vida, tanto pela Organização Mundial da Saúde, em âmbito internacional, quanto pelo Ministério da Saúde, em âmbito nacional.
Como qualquer dieta (com ou sem ingredientes de origem animal), especialmente em fases como infância e lactação, é importante o acompanhamento médico e nutricional. Contudo, mesmo de posse de documentação médica, Patrícia, que é estrangeira e passou por divórcio conturbado ainda gestante, teve seu direito de guarda e amamentação cerceados pelo suposto risco à saúde do filho.
Dessa forma, acreditamos que o presente caso está longe de se resumir a uma mera questão de saúde, haja vista não terem sido suficientes os reconhecimentos institucionais do vegetarianismo já citados, a documentação médica apresentada e nem mesmo a declaração de apoio à Patrícia em nome da Secretaria Municipal de Direitos Humanos de Foz do Iguaçu.
O patriarcado ainda tem fortes reflexos em muitas relações pessoais e institucionais na nossa sociedade, sendo notado nesse caso. Por que deveríamos considerar que, mesmo que houvesse necessidade de ajustar a alimentação da criança, isso seria melhor executado com o pai do que com a mãe, que ainda amamenta o filho? Se a preocupação de fato fosse estritamente a alimentação, não seria mais correto garantir acompanhamento profissional específico?
Enquanto outros alimentos são facilmente adequáveis, o leite materno é único, riquíssimo, possuindo todos os nutrientes necessários, não havendo fórmula que o reproduza em sua completude. É de valor tão imensurável e, ao mesmo tempo, gratuito, acessível, prático, por estar com a mãe onde ela for. Mas Patrícia está sendo obrigada a extrair esse alimento precioso com sondas mecânicas e entregá-lo sem estabelecer contato com o próprio filho. Ela, que foi rebaixada de mãe e guardiã a algoz da própria cria, aparentemente sem qualquer justificativa realmente plausível.
Temos visto que é fundamental ao capitalismo selvagem nos percebermos separado do outro, do mundo, da natureza, dos animais, sendo esse abismo criado como uma condição para sustentar tanta opressão, tanta violência, tanta exploração. Existe um sistema cruel que se baseia na violência, na separação, na despotencialização, na exploração e no esvaziamento, sendo todas essas forças atuantes sobre nós, a todo o tempo e em todo lugar, nos pressionando a ceder, a entregar nossas vidas, a desacreditarmos em nós e nos tornarmos dependentes de tudo aquilo que nos é ofertado por um preço.
A amamentação tem sido uma dessas ferramentas boicotadas pelo capital e pelo patriarcado, que atuam na tentativa de nos desprover daquilo que temos, inferiorizando a potência do leite materno, enquanto nos oferece produtos industrializados para dar conta da nossa suposta insuficiência.
Como coletivo que busca difundir a ideia do veganismo acessível, para que todas as pessoas tenham informações corretas e possam escolher aquilo que consomem, nos solidarizamos à Patrícia e esperamos que a Justiça entenda que o melhor para Sama é estar junto da mãe, tanto para receber o leite materno a que tem direito direto do peito quanto para manter esse vínculo tão importante na primeira infância.
Você pode ajudar assinando a petição: https://www.change.org/p/tribunal-de-justi%C3%A7a-do-parana-devolva-o-sama-para-a-mae