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Por um veganismo popular e inclusivo
Sobre caminhar coletivamente rumo à abolição de todas as opressões

Sobre caminhar coletivamente rumo à abolição de todas as opressões

No dia 26 de março, durante uma live intitulada “Defesa pelos Direitos dos Animais”, em parceria com a ALERJ, Xuxa Meneghel sugeriu que remédios e vacinas deveriam ser testados em pessoas em situação de encarceramento. Já na madrugada do dia 27, em vídeo publicado nas suas redes sociais, a apresentadora voltou a defender o seu posicionamento, alegando que, ao dizer isso, não estava pensando em pessoas negras e pobres, mas sim em estupradores de crianças e em condenados que cumprem penas longas, e, segundo ela, poderiam pensar em “ajudar outras pessoas de alguma maneira”. Essas falas nos revelam, entre outros, os seguintes problemas:

  • pessoas que não estão engajadas no movimento social que dizem representar e repercutem suas ideias pessoais, que não são compartilhadas por quem constrói o movimento coletivamente;
  • o entendimento de que pessoas encarceradas não têm nenhum direito e podem ser tratadas como objetos para que tenham utilidade para a sociedade.

A União Vegana de Ativismo (UVA) foi fundada a partir da necessidade de organização política do movimento vegano. Rejeitamos a ideia de veganismo como um estilo de vida individual – reproduzida por adeptos do veganismo liberal -, que geralmente desconsidera as necessidades de transformação social rumo a uma sociedade mais justa e que combata todas as formas de opressão contra animais humanos e não humanos.

Concordamos com as críticas à fala de Xuxa, que infelizmente são uma reprodução de construções ideológicas que existem dentro e fora do movimento em defesa dos animais. Nossa tarefa é justamente apresentar a contradição dessas ideias com o veganismo que defendemos: um movimento que denuncia a opressão de todo e qualquer ser.

Para combater o especismo é fundamental a organização e a formação política de pessoas veganas, para compreender como ele se relaciona às demais formas de opressão e como transferir a opressão de um grupo para outro é completamente injustificável. O ativismo individual corre o risco de promover o culto a personalidades, enquanto uma luta coletiva se constrói no debate, com reflexões e aprendizados, caminho favorável para a superação de ideias reacionárias dentro do movimento. O engajamento em uma causa deveria ser sempre um caminho para a compreensão de como os problemas da sociedade são sistêmicos, estruturais, interligados, o que demanda aprender sobre quem os provoca e apoiar outras causas. Lutamos pelo fim dos testes em animais, não substituindo as cobaias, mas sim avançando no desenvolvimento e na adesão a novos métodos que prescindem da matança e da tortura de outros seres.

Nós, que lutamos por um veganismo popular, precisamos mostrar para a sociedade e principalmente para as pessoas que estão dentro do movimento de libertação animal que nossa luta abarca a defesa da vida e da dignidade de todos os animais sencientes, quer sejam humanos ou não. Não podemos compactuar com uma visão reacionária que coloca os seres humanos como antagonistas à natureza ao invés de pertencentes a ela. Não podemos excluir ainda mais quem já é tido como descartável no sistema capitalista. É necessário reconhecer que o sistema penal é racista, elitista e seletivo(*), desrespeita direitos humanos básicos e historicamente vem se mostrando ineficaz para prevenir a ocorrência de crimes.

A UVA apoia a luta antirracista, anticapitalista e antipunitivista por acreditar que o veganismo deve se articular a outros movimentos por justiça social e ser disseminado de uma forma acessível e popular(*).

Fazemos o convite para a Xuxa e todas as pessoas não familiarizadas com o debate sobre o antipunitivismo para conhecer e repensar sua visão sobre o tema.

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